Memória da Justiça: tribunais debatem papel do Judiciário na história nacional
Fonte: CNJ
Por meio do acesso ao patrimônio cultural preservado pelas
instituições, o Poder Judiciário se alinha à agenda internacional na afirmação
dos direitos humanos e da ordem democrática, com base na reflexão sobre seu
papel na história e nas transformações sociais. Essa análise é a base do III
Encontro Nacional de Memória do Poder Judiciário (III Enam), iniciativa
promovida pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em conjunto com os cinco
tribunais gaúchos, que começou na quarta-feira (10/5), em Porto Alegre (RS).
Conforme ressaltado pela conselheira, essas normas e ferramentas são essenciais para todos os que atuam na Justiça, que não recebem mais processo judicial físico desde março do ano de 2022. “A guarda digital é o tema do momento. Temos que falar sobre sites e redes sociais e estabelecer políticas para implementação efetiva, identificação, preservação e difusão do acervo.”
O trabalho, de acordo com a conselheira Salise, foi desenvolvido em parceria com os tribunais. “Fui testemunha das riquezas de ações e pluralidade de iniciativas, do espírito empreendedor e criativo dos órgãos do Poder Judiciário e do cumprimento das diretrizes e normas – que eu sei que não são poucas -, mas que servem para uniformizar essas ações”, afirmou.
As atividades de guarda e preservação da Memória estão
relacionadas à transparência e fruição dos direitos culturais, que são eixos
contemplados na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), adotada
pelo Judiciário brasileiro de maneira pioneira no mundo como uma das diretrizes
para suas ações.
Judiciário e história
Para a presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministra Maria Thereza de Assis Moura, que também participou da abertura do III Enam, o Judiciário trabalha com a “tríade clássica” dos bens culturais, formado por arquivos, museus e bibliotecas que armazenam e preservam documentos para a memória nacional. “Esses documentos precisam ser cuidadosamente tratados, organizados, preservados e disseminados pelas áreas especializadas. Somente assim garantiremos que as futuras gerações tenham o entendimento do papel do Judiciário sobre a história da sociedade.”
Para ela, a memória da Justiça não se limita ao institucional, mas tem desempenhado o papel histórico essencial na proteção das garantias sociais, na afirmação dos direitos humanos e na manutenção da ordem democrática. “É fundamental conhecer a história para que se possa avaliar e refletir como continuar aperfeiçoando os serviços prestados e atender a demanda da sociedade atual”
Os presidentes dos cinco tribunais com sede na capital gaúcha – Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (TRT4), Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul (TJRS), Tribunal de Justiça Militar do Estado do Rio Grande do Sul (TJM), Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) e Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul (TRE-RS) – responsáveis pela realização conjunta do III Enam, destacaram a importância do trabalho cooperativo realizado pelas cortes.
Eles defenderam que o Judiciário não é proprietário do patrimônio cultural, mas o responsável pela promoção e proteção dos bens culturais, conforme estabelecido pela Constituição Federal. Também ressaltaram que o acesso à informação – seja de interesse particular ou coletivo – e às fontes de cultura nacional são dever do Estado brasileiro e um direito fundamental, além do apoio e incentivo à valorização e difusão das manifestações culturais.
De acordo com o presidente do TJMRS, desembargador Amilcar Fagundes Freitas Macedo, o evento pretende “construir uma maior consciência de conservação e de tratamento dos arquivos sociais, dos museus memoriais e das bibliotecas, que buscam estruturar e divulgar a história, a memória e o patrimônio cultural dos tribunais.”
Para o desembargador Francisco Rossal de Araújo, presidente do TRT4, “a Memória não é apenas a preservação do conhecimento, mas é uma forma de facilitar a aprendizagem”. Nesse sentido, a preservação do patrimônio cultural dos tribunais é um “componente indispensável” para o aperfeiçoamento institucional.
O presidente do TRE-RS, desembargador Francisco José Moesch, por sua vez, destacou que cabe ao Judiciário o papel garantidor da “efetivação dos direitos constitucionais legais pertinentes à Memória, tendo a função inclusive de contribuir para a estabilidade e a unidade da nação”. Contar a história, como afirmou o presidente do TRF4, desembargador Ricardo Teixeira do Valle Pereira, “permite que a humanidade siga adiante, de forma a aprender com os erros e a valorizar os acertos.”
A mesma opinião foi apresentada pela presidente do TJRS,
desembargadora Iris Helena Medeiros Nogueira. Para ela, o compromisso com a
prestação jurisdicional leva avanço à sociedade. “Conhecer e estudar os fatos
segundo o respectivo contexto e analisar atentamente o passado da instituição
permitem que haja um espaço para formar novas gerações que conheçam melhor o
Judiciário e sua constante busca pela paz da sociedade a qual presta serviços.”