Faleceu o Juiz-Cel. Itaboraí Pedro Barcellos, ex-presidente do Tribunal de Justiça Militar do Estado

foto 4

O Juiz Jubilado do Tribunal de Justiça Militar do Estado  Cel. Itaboraí Pedro Barcellos, faleceu nesta terça-feira (16/9). O velório ocorre na sala 01 do Crematório Metropolitano, na Av. Oscar Pereira, 584, Porto Alegre. A cerimônia de despedida acontece às 19 horas, no mesmo local.

 Do Projeto Memória

O prefácio do Volume I da Publicação ‘A Justiça Militar do Estado / Histórico e Depoimentos’, inicia dizendo que “ A história oral, sabemo-lo, surgiu, originariamente, como um instrumento para dar voz àqueles que não tinham história (...) Recentemente tem crescido, todavia, a utilização desta técnica junto aos projetos de memória de instituições (...) auxilia os historiadores a lançarem um olhar para além da aridez dos documentos oficiais.” É nesta perspectiva que o depoimento do Cel. Itaboraí para o Projeto Memória da Justiça Militar (2003) ocupa 32 páginas, a partir da página 180. Trata-se de uma rica reconstituição histórica, a partir da vida de um importante personagem da vida militar estadual, política e jurídica do Rio Grande do Sul. “estes documentos vêm sendo cuidadosamente catalogados e identificados pela equipe de pesquisadores (...)”, informa o Juiz Sergio Antonio Berni de Brum, coordenador do Projeto, na apresentação da mesma publicação. Fica claro, desta forma, que, para além do resgate histórico, trata-se de homenagem à figura pública. No caso, ao Juiz Jubilado do Tribunal de Justiça Militar do Estado  Cel. Itaboraí Pedro Barcellos.  Filho do ex-comandante da Brigada Militar e ex-Governador do Estado Cel. Walter Peracchi de Barcellos , o Cel. Itaboraí Pedro Barcelos nasceu em Porto Alegre, em 1931. Ingressou na Brigada Militar em 31 de maio de 1948. Foi Subchefe da Casa Militar do Governador Ildo Meneghetti, Chefe do Estado-Maior da Brigada Militar no Governo Euclides Triches e Chefe da Casa Militar do Governador Sinval Guazzelli. Em 28 de fevereiro de 1978, foi nomeado Juiz Militar do Tribunal de Justiça Militar do Estado. Foi Vice-Presidente da Corte, no biênio de 1980/1981 e Presidente em 1982. Aposentou-se em 1982.

 Um trecho revelador

Está reproduzido abaixo, um pequeno trecho da entrevista realizada com o Cel. Itaboraí e publicada no Livro já citado. É apenas uma pequena parte inicial, mas revela a riqueza do que vem depois. Vale à pena conferir.

 PROJETO MEMÓRIA: E a sua escolha pela carreira militar teve influência familiar?

ENTREVISTADO: Sim. Quando pequeno admirava muito meu pai, sempre o via fardado, ele era Capitão na Academia, Instrutor-Chefe de Cavalaria. Lembro que cedo da manhã vinha o ordenança com o cavalo pegá-lo, naquela época morávamos no bairro Glória, na rua D. João VI. Levantava da cama, ia para a janela e ficava olhando ele saindo, todo fardado, montado no cavalo, com o ordenança atrás. Achava aquilo lindo. Fui crescendo naquele meio, sempre junto com o pessoal da Brigada, parece que eu já havia incorporado na Brigada antes mesmo de sentar praça. Minha ligação afetiva era muito forte, muitos parentes meus integravam a Brigada: meu tio Gerdano de Abreu, comandou o CIM, hoje Academia de Polícia Militar; um outro tio meu, irmão do meu pai, era Sargento; e eu vivia naquele meio. Freqüentei o colégio, o Grupo Escolar, e depois fui para o Ginásio, mas eu só pensava na Brigada. Então, quando fiz dezesseis anos de idade, sem falar nada em casa, peguei uma malinha com roupas e fui para o 2º Batalhão de Caçadores, agora, é 1º BPM, porque o 2º Batalhão ainda existe. Quando cheguei me mandaram para o QG, onde fui atendido na seção de pessoal, se não me engano, pelo Major, hoje Coronel, Hermes Gomes Fernandes. Ele já me conhecia, pois eu era filho do Coronel Peracchi: “Mas guri o que tu estás fazendo aqui?” E eu disse: “Eu quero sentar praça.” “Mas tu és louco, tu vais virar picolé aqui, rapaz. Vai-te embora para casa.” Eu digo: “Não, pára com isso, dá um jeito.” E ele perguntou: “Mas que idade tu tens?” “Dezesseis anos.” “Mas tu nem podes, tu és um guri, tens dezesseis anos.” E eu insistindo, chateei tanto até que ele mandou eu me apresentar no 2º Batalhão, e ali eu fiquei na Escola de Recrutas. Só depois que fui avisar em casa o meu ingresso na Brigada.

PROJETO MEMÓRIA: E qual foi a reação do Governador Peracchi?

ENTREVISTADO: Não houve aquele choque. Ele não ficou triste pelo fato de eu deixar de estudar para ser soldado. Isso que naquela época, a Brigada ganhava muito mal, hoje, ainda, os praças ganham mal, mas naquela época era todo mundo. Mas ele ainda argumentou dizendo o seguinte: “Meu filho, tu podes te arrepender, porque tu és moço, tu podes estudar, o pai pode te pagar colégio, e tu podes, quem sabe, fazer um outro curso, te formar, ter uma vida melhor, a vida na Brigada é de muito sacrifício, principalmente pela remuneração, que é muito baixa, tu vais estranha.” E eu disse: “Não, quero ser soldado da Brigada, quero ir para a Brigada, já resolvi, e a minha vida vai ter que ser resolvida aqui.” Minha mãe que chorou, era daquelas italianas possessivas, e eu era muito preso, nunca havia saído de casa, nunca havia nem sequer passado uma noite fora de casa.

Fotos:

1- Cel. Itaboraí homenageado em cerimônia comemorativa aos 90 anos do TJM/RS, em 2008;

2- Cel. Itaboraí autografando livro "A Justiça Militar do Estado", em 2003;

3- Jornais noticiam posse do Cel. Itaboraí na presidência do TJM/RS;

4-  Cel. Itaboraí na inauguração do prédio/sede do TJM/RS, em 1981;

Imagens da notícia